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Como o álcool altera o sono: evidências científicas sobre os efeitos na arquitetura e qualidade do descanso

By CISA 08 Dezembro 2025

O consumo de álcool antes de dormir é uma prática comum, muitas vezes vista como uma forma de facilitar o sono. Porém, evidências científicas recentes, incluindo uma revisão sistemática e meta-análise de 27 estudos publicada em 2025, mostram que o álcool pode alterar significativamente a qualidade do sono em adultos saudáveis. Mesmo que pareça ajudar no início do sono, seu efeito ao longo da noite compromete os ciclos de descanso essenciais..

O álcool age como um depressor do sistema nervoso central, diminuindo o tempo necessário para adormecer ao promover relaxamento e sonolência. Contudo, o efeito do álcool sobre o sono não é uniforme durante toda a noite. Ele pode alterar significativamente a arquitetura do sono, principalmente reduzindo a duração e atrasando o início do sono REM, etapa do sono relacionada à consolidação da memória, regulação emocional e restauração cerebral.

Um estudo de revisão publicado em 20251 mostrou que tanto doses baixas quanto moderadas de álcool já prejudicam o sono REM e aumentam fragmentações e despertares a partir da segunda metade da noite, quando o organismo está metabolizando o álcool e seus metabólitos, como acetaldeído e acetato, promovem aumento da atividade fisiológica e temperatura corporal. Doses altas aceleram o início do sono profundo (N3), mas a interrupção do sono REM e a fragmentação persistem, o que compromete a qualidade global do sono.

Além disso, o álcool tem efeito de relaxar os músculos da garganta, aumentando o risco de ronco e apneia, distúrbios que agravam a fragmentação e a má qualidade do sono. A percepção subjetiva de um boa noite de sono, muitas vezes relatada após o consumo, não corresponde aos dados objetivos de polissonografia, que mostram sono menos restaurador e maior fadiga no dia seguinte.

É importante destacar que os efeitos do álcool variam entre indivíduos, com mulheres podendo ser mais sensíveis devido às diferenças metabólicas e hormonais. O consumo de álcool como auxílio para dormir é, portanto, uma estratégia contraproducente que prejudica funções cognitivas, emocionais e o funcionamento físico no cotidiano.

Em conclusão, a evidência da revisão sistemática reforça que o álcool, embora possa facilitar o adormecimento, compromete a qualidade geral do sono, especialmente ao reduzir o sono REM, que é crucial para processos cognitivos e emocionais. Outros estudos complementares confirmam esses achados2,3, mostrando que o consumo regular de álcool está associado a maior fragmentação do sono e piora do desempenho diurno, incluindo fadiga, prejuízo de atenção e humor alterado. Além disso, pesquisas indicam que o impacto negativo do álcool no sono pode ser ainda mais acentuado em populações vulneráveis, como idosos e pessoas com transtornos do sono já existentes. Por isso, a recomendação é evitar o uso de álcool como recurso para dormir e focar em práticas que promovam um sono natural e restaurador, garantindo assim melhor saúde e qualidade de vida.

 

Additional Info

  • Referências:

    1. Gardiner C, Weakley J, Burke LM, Roach GD, Sargent C, Maniar N, Huynh M, Miller DJ, Townshend A, Halson SL. The effect of alcohol on subsequent sleep in healthy adults: A systematic review and meta-analysis. Sleep Med Rev. 2025;80:10203.
    2. Kim HJ, Lee SY, Park JH, Kim SH, Choi J, Lee HW. Enhanced alcohol metabolism and sleep quality with continuous positive airway pressure in patients with obstructive sleep apnea. Sci Rep. 2025;15(1):17345.​
    3. Pabon E, Caldwell JA, Swamy RN, Bailey SJ, Wilkinson M. Effects of alcohol on sleep and nocturnal heart rate: behavioral and physiological outcomes. Alcohol Clin Exp Res. 2022;46(3):408-416.

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