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Estudo brasileiro destaca relação entre consumo de álcool e suicídio em municípios da Grande São Paulo

04 Fevereiro 2025

O uso nocivo de álcool é um fator de risco conhecido para diversas formas de comportamento impulsivo e violento, incluindo suicídio. Um estudo observacional conduzido no Brasil analisou a relação entre níveis de álcool no sangue e casos de suicídio em municípios da região metropolitana de São Paulo, revelando associações entre o consumo de álcool e mortes por suicídio.

 

Um estudo recente1 com dados do Instituto Médico Legal do Estado de São Paulo (IML-SP) e publicado na revista Forensic Science, Medicine and Pathology investigou a relação entre o consumo de álcool e suicídios em quatro municípios da Grande São Paulo: Franco da Rocha, Caieiras, Mairiporã e Francisco Morato. A pesquisa analisou dados de 805 necropsias realizadas entre 2001 e 2017, das quais 41 casos foram identificados como suicídio. O objetivo foi avaliar a presença de álcool no sangue dos indivíduos e sua possível influência no ato suicida.

Os resultados mostraram que 92,68% das vítimas de suicídio apresentaram concentrações elevadas de álcool no sangue (acima de 0,3 mg/dl), com médias particularmente altas em casos de enforcamento (2,3 mg/ml). Além disso, os dados indicaram que a maioria das vítimas era do sexo masculino (85,36%), predominantemente jovens adultos entre 18 e 23 anos. Entre as mulheres, a faixa etária mais afetada foi de 12 a 23 anos, destacando um padrão preocupante de vulnerabilidade entre adolescentes.

Os pesquisadores também observaram que o uso de métodos mais letais, como armas de fogo e objetos cortantes, estava associado a níveis mais elevados de álcool no sangue. Esses achados reforçam a hipótese de que o consumo nocivo de álcool pode aumentar a impulsividade e reduzir as inibições contra comportamentos autodestrutivos.

Com base nos achados, algumas recomendações são importantes:

  1. Prevenção e conscientização: Programas de prevenção ao suicídio devem incluir estratégias para tratar o uso nocivo de álcool, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, que são grupos de maior risco.
  2. Restrição ao acesso a meios letais: Medidas como o controle de acesso a armas de fogo, pesticidas e medicamentos neurotrópicos podem reduzir a letalidade dos métodos utilizados em tentativas de suicídio.
  3. Uso de biomarcadores periféricos: A triagem de indivíduos com ideação suicida utilizando biomarcadores periféricos (substâncias biológicas em fluidos corporais que indicam processos fisiológicos, doenças ou respostas a tratamentos) pode ser uma ferramenta valiosa para identificar aqueles em risco.
  4. Proteção em espaços públicos: Construções como viadutos e pontes devem ser projetadas com medidas de segurança para prevenir quedas intenciona

Essas recomendações são particularmente relevantes para regiões com alta desigualdade socioeconômica, onde o consumo de álcool e os índices de suicídio tendem a ser mais elevados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatiza que a prevenção do uso nocivo de álcool é um fator importante que pode contribuir significativamente para a redução das taxas de suicídio.

 

 

 

Additional Info

  • Referências:

    1. Miziara, I.D., Miziara, C.S.M.G. Suicide victims and alcohol-related consumption in Brazil: An observational study and a narrative review of the literature. Forensic Science, Medicine and Pathology , 2023. https://doi.org/10.1007/s12024-023-00766-4.

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