A naltrexona é uma medicação usada para tratar transtornos relacionados ao uso de álcool e de outras drogas, como heroína e anfetaminas1. Bem como outros medicamentos usados para tratar a dependência em álcool e opioides, ela atua de modo a alterar os efeitos na indução da euforia destas drogas2. Sua ação ocorre no sistema nervoso central diminuindo a vontade de beber e fazendo com que a pessoa sinta menos os efeitos agradáveis do álcool, também chamados de efeitos “positivamente reforçadores”.
A concentração do fármaco no organismo é importante para a resposta ao tratamento e, ainda, é altamente variável entre os indivíduos. Os resultados de um estudo sobre o tema mostram que apenas metade dos pacientes que receberam uma dose padrão de 50mg alcançaram a faixa terapêutica, sendo assim, muitos pacientes necessitam de doses maiores3,4. De maneira geral, há importantes diferenças individuais na resposta à naltrexona.
Alguns estudos encontraram dois tipos de fenótipo para a resposta ao tratamento da dependência de álcool, classificados como “bebedores de alívio” e “bebedor de recompensa”5. O primeiro é caracterizado pelo consumo de álcool ser mantido por aliviar os estados afetivos negativos, como a angústia. Já o indivíduo do fenótipo “bebedor de recompensa” utiliza o álcool por seus efeitos positivos e recompensadores, destacando indivíduos que gostam e desejam excessivamente o álcool, em particular as sensações descritas como “prazerosas” relacionadas a estar sob o efeito da droga.
Estudos recentes sugerem que o fenótipo de “bebedor de recompensa” é um fator preditor positivo de resposta da naltrexona5. Em adultos jovens, um estudo mostrou que pacientes com alto nível de mecanismos de recompensa e alívio obtiveram melhores respostas com o tratamento, quando comparado ao placebo6,7.
Tentando aprimorar o uso deste fármaco, algumas prescrições clínicas (como a do conhecido “método Sinclair”) consideram o momento de ingestão da dose de naltrexona em relação ao consumo de álcool para maximizar a eficácia do tratamento4. Esse tipo de “metodologia” focada no momento de ingestão da medicação pode ser útil no tratamento de pacientes que não desejam aceitar a abstinência como objetivo inicial do tratamento, já que o paciente pode ainda consumir álcool. Uma das limitações desta prescrição é a indisponibilidade de uma dosagem padronizada, bem como a falta de um corpo mais sólido de estudos sobre sua eficácia , pois ainda não está consolidado que usar naltrexona um tempo antes de um episódio de consumo é mais efetivo do que consumi-la em um horário fixo do dia, sem levar em consideração o momento da ingesta de álcool.
Intervenções que consideram dados individuais de fenótipo, genética e neuroimagem são cada vez mais recomendados para personalizar o tratamento farmacológico da dependência do álcool. Nesse contexto, há certas pessoas que se beneficiarão do uso da naltrexona.
A utilidade de naltrexona como o tratamento coadjuvante de dependência de álcool é promissora, como foi demonstrado em uma revisão sistemática sobre o seu uso associado a outras medicações8, indicando que pode auxiliar no tratamento da dependência do uso de álcool associado a outras comorbidades, como ansiedade e depressão. Porém, mais estudos são necessários, tanto na classificação dos tipos de bebedores, quanto na resposta ao tratamento dentre esses subtipos específicos.
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