Um dos maiores estudos já realizados sobre o tema, envolvendo mais de 2,4 milhões de pessoas ao redor do mundo, confirma que o consumo de álcool aumenta o risco de desenvolver câncer de pâncreas. A pesquisa, que acompanhou participantes por mais de 15 anos, mostrou que mesmo quantidades moderadas de álcool podem elevar as chances da doença, independentemente de a pessoa fumar ou não.
Um estudo internacional 1 publicado na revista científica PLOS Medicine analisou dados de mais de 2,4 milhões de pessoas de 30 países diferentes para entender melhor a relação entre o consumo de álcool e o câncer de pâncreas. Durante um acompanhamento de mais de 15 anos, os pesquisadores registraram mais de 10 mil casos da doença. Embora a relação entre o álcool e a pancreatite, um fator de risco importante para o desenvolvimento de câncer de pâncreas, já fosse bem estabelecida, a associação direta entre este tipo de câncer e a substância ainda tinha evidências limitadas ou inconclusivas.
Os resultados mostraram que para cada dose adicional de álcool consumida diariamente (equivalente a cerca de 10g de álcool puro), o risco de câncer de pâncreas aumenta em 3%. Para colocar isso em perspectiva, 10g de álcool correspondem aproximadamente a:
Para as mulheres: Quem consome entre 1-2 doses por dia tem 12% mais chances de desenvolver a doença, comparado a quem bebe muito pouco.
Para os homens: O risco aumenta 15% para quem consome 2-4 doses diárias, e salta para 36% entre aqueles que bebem mais de 4 doses por dia.
Uma descoberta importante do estudo é que o álcool aumenta o risco de câncer de pâncreas mesmo em pessoas que nunca fumaram. Isso significa que não é apenas a combinação álcool + cigarro que é perigosa - o álcool sozinho já representa um risco.
Os pesquisadores encontraram praticamente o mesmo aumento de risco em:
Outro achado interessante foi que diferentes tipos de bebida alcoólica parecem ter efeitos distintos:
Cerveja e destilados (whisky, vodka, cachaça): Aumentaram o risco de câncer de pâncreas.
Vinho: Não mostrou associação significativa com a doença, possivelmente devido aos compostos benéficos presentes na bebida, como os polifenóis.
O estudo também revelou diferenças geográficas interessantes. O aumento do risco foi observado principalmente em:
Já nos países asiáticos, não foi encontrada essa associação, provavelmente porque muitas pessoas nessas regiões têm uma variação genética que as torna menos tolerantes ao álcool, fazendo com que bebam menos.
O câncer de pâncreas é uma das formas mais agressivas da doença, com baixas taxas de sobrevivência. Por isso, entender os fatores de risco é fundamental para a prevenção.
Principais pontos para lembrar:
É importante mencionar que o estudo teve algumas limitações:
Esta pesquisa revela que o consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, é um fator de risco modificável para o câncer de pâncreas. É importante estar atento a esses riscos, especialmente se você apresenta outros fatores predisponentes, como tabagismo, obesidade, diabetes tipo 2, pancreatite crônica ou histórico familiar da doença.
O estrogênio desempenha um papel fundamental nas respostas neurobiológicas ao álcool em mulheres. Evidências recentes mostram que flutuações hormonais ao longo do ciclo menstrual e ao longo da vida podem influenciar a sensibilidade ao álcool, o padrão de consumo e os riscos associados ao seu uso.
Estudos pré-clínicos e clínicos indicam que o estrogênio amplifica os efeitos da dopamina em áreas cerebrais relacionadas ao sistema de recompensa, como o corpo estriado e o córtex pré-frontal. Isso pode aumentar a vulnerabilidade das mulheres ao desenvolvimento de transtornos por uso de álcool, especialmente em fases da vida com altos níveis estrogênicos, como durante o ciclo ovulatório, gravidez ou terapia hormonal.1
O estradiol é um hormônio esteroide, especificamente um estrogênio, produzido principalmente nos ovários em mulheres e em menor quantidade nos testículos em homens. Estudos indicam que o consumo de álcool pode aumentar os níveis de estradiol em mulheres, efeito observado tanto em mulheres em idade reprodutiva quanto em mulheres na pós-menopausa. Alguns estudos mostram que mulheres que consomem uma ou mais doses de álcool por dia apresentam níveis mais elevados de estradiol em comparação àquelas que consomem menos, especialmente quando os níveis hormonais são avaliados durante a fase lútea do ciclo menstrual.2,3 Em contrapartida, mulheres com transtorno por uso de álcool em tratamento ou em abstinência precoce frequentemente apresentam níveis mais baixos de estradiol do que mulheres sem transtorno.4
Altos níveis de estradiol parecem aumentar a vulnerabilidade das mulheres ao uso de álcool. O hormônio influencia regiões cerebrais envolvidas na recompensa, como o corpo estriado e o núcleo accumbens. Um estudo conduzido por Martel et al. (2017), com 22 mulheres em idade reprodutiva, mostrou que níveis mais altos de estradiol estavam associados a maior consumo de álcool e episódios de binge drinking. Essa associação foi mais forte quando os níveis de estradiol estavam altos e os de progesterona baixos, um padrão hormonal típico da fase ovulatória do ciclo menstrual.5
Embora as evidências atuais apontem para uma interação relevante entre os níveis de estradiol e o uso de álcool em mulheres, os mecanismos fisiológicos subjacentes ainda não são completamente compreendidos. Ainda são necessários estudos experimentais e longitudinais para elucidar como o estradiol influencia a neurobiologia da recompensa e da vulnerabilidade ao uso de álcool, bem como os efeitos do álcool sobre a função endócrina em diferentes fases da vida da mulher.
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